segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Especialistas apontam soluções para desafogar o Anel e a BR-356, em Belo Horizonte

 Duas estradas `abraçadas` pela cidade que se tornaram sinônimo de congestionamento e perigo


Paula Sarapu

Publicação: 04/11/2012 07:16 Atualização: 04/11/2012 07:23

Rotina de acidentes: ontem, caminhão-reboque foi atingido por carreta enquanto estava parado em marginal no km 5 do Anel  (jackson romanelli/em/d.a press)
Rotina de acidentes: ontem, caminhão-reboque foi atingido por carreta enquanto estava parado em marginal no km 5 do Anel

Os problemas são conhecidos. Nos horários de pico, congestionamentos; fora deles, muitos motoristas se arriscando em alta velocidade. E com frequência assustadora, acidentes e mortes ocorrem em boa medida pela mistura de carros de passeio e motocicletas com caminhões e carretas. O crescimento de Belo Horizonte e cidades no entorno da capital criou uma situação pouco comum em outras metrópoles brasileiras: duas rodovias federais que se tornaram parte do trânsito habitual. O Anel Rodoviário e a BR-356, entre o trevo do Belvedere e o Viaduto do Mutuca, desafiam a paciência, a segurança e a capacidade de reação das autoridades. No ano passado, só o Anel registou 33 mortes. Este ano, até outubro, foram quase 2 mil acidentes, nos quais 25 pessoas perderam a vida. Para analisar a situação das vias e buscar soluções para torná-las mais seguras, o Estado de Minas ouviu especialistas habituados às duas estradas. Em comum, todos apontam obras grandes para atacar o problema de maneira definitiva, casos da reforma do Anel e da construção do Rodoanel. Mas, boa notícia para motoristas, eles concordam que há medidas passíveis de ser adotadas no curto prazo. Mais fiscalização e presença ostensiva da polícia, gestão integrada dos órgãos responsáveis pelos trechos, criação de plano de emergência, redução do limite de velocidade e melhorias na sinalização, eles avaliam, já serviriam para tornar o trânsito mais civilizado.

Velocidade menor, mais áreas de escape


O Anel Rodoviário, importante eixo da malha rodoviária nacional, foi engolido pela cidade. Construído nos anos 50 para desafogar o trânsito de caminhões que cortavam Belo Horizonte, não foi projetado para a quantidade de veículos que ali passaram a circular com o crescimento da capital mineira, que ultrapassou seus limites. Especialistas indicam que a construção do Rodoanel, obra viária de 62 quilômetros que só deve sair do papel a partir de 2016 e será custeada pelo governo federal, resolveria um problema crucial: diminuir o trânsito de veículos pesados da via. Mas apontam que um “tratamento de choque” no Anel é necessário e urgente.

Para o professor Ronaldo Guimarães Gouvêa, do Departamento de Engenharia de Transportes da UFMG, um ponto é fundamental: aumentar o policiamento ostensivo, fiscalizando e punindo motoristas irresponsáveis. “As câmeras de segurança são muito importantes, mas os agentes precisam estar mais lá. O Anel precisa de uma medida bem radical, quase de guerra, porque vemos como as carretas descem aquilo ali a mais de 100km/h. Polícia na rodovia tem um forte impacto no lado psicológico”, acredita.

A Polícia Militar Rodoviária, responsável pelo patrulhamento no Anel – embora seja uma via federal – não divulga seu efetivo por questões de segurança. Gouvêa cobra a revitalização da rodovia e defende até um controle maior da velocidade, chegando ao limite de 60km/h – hoje, a velocidade máxima para carros de passeio é de 70km/h e de 60km/h para caminhões. “Se passar acima disso, os policiais têm que parar e reter os veículos. É preciso vender uma imagem de que o Anel é ‘rabo de foguete’, de que passar lá é muito chato por causa do controle.”

O engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade Puty Filho concorda com a redução do limite de velocidade e aponta medidas estruturais. Ele defende o alargamento de trechos estrangulados, que reduzem a capacidade de circulação e aumentam chance de acidentes. Além disso, ele avalia ser necessário, no curto prazo, implantar vias marginais em todo o percurso e criar áreas de escape, principalmente na descida – a medida foi defendida no mês passado por caminhoneiros durante protesto no Anel. Silvestre de Andrade também sugere a renovação imediata da sinalização e recuperação dos divisores das pistas, que estão estragados. “O Anel tem que ganhar um novo tratamento para ontem. Cito ainda a necessidade de um pavimento com melhor aderência, a melhoria das interseções e iluminação mais eficiente. São medidas emergenciais, todas voltadas para a segurança”, diz.

Como parte das obras de revitalização do Anel, está prevista para amanhã a abertura de envelopes com os projetos de engenharia. Entre os pontos exigidos, como apontam os especialistas, estão o aumento da capacidade de fluxo com alargamento das pistas que afunilam, correção dos viadutos e instalação da via marginal ao longo de todo o Anel. O projeto básico previa a reforma e construção de todas as interseções de acesso à cidade em toda a via.

Integração e plano de emergência urgentes

Para o mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro Paulo Rogério da Silva Monteiro, qualquer melhoria imediata passa pela elaboração de um plano de contingência e gestão integrada para rápida resposta aos acidentes. Nesses casos, por exemplo, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) costuma acionar a BHTrans para pedir um reboque emprestado.

Em situações mais graves, quando há acidentes envolvendo carga tóxica ou química, a dificuldade é maior. No dia 24 de outubro, por exemplo, as autoridades levaram 13 horas para desobstruir o Anel Rodoviário depois que uma carreta carregada com 25 toneladas de gás de cozinha tombou. O congestionamento chegou a oito quilômetros. “São rodovias com interface grande, mas jurisdições diferentes. Não dá para pensar em quem é o responsável, quem faz o quê ou onde faremos desvios’”, defende Paulo Rogério. “Um dos problemas é a gestão da operação, meio compartilhada, meio sem dono, meio com responsabilidade do outro”, critica.

Ele afirma que falta aprendizado com os problemas e presença ostensiva da polícia. “Poderia haver parceria com centrais de reboque, deixando um veículo às margens do Anel. Mas é claro que é preciso engajamento das esferas públicas e privada”, conclui.

Fonte: www.em.com.br

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