Especialistas apontam necessidade de
organizar a fiscalização no trecho da rodovia entre o Trevo do Belvedere
e o Viaduto da Mutuca e sugerem intervenções para desafogar trânsito
Paula Sarapu
Publicação: 04/11/2012 07:19
Atualização:
 |
|
Engarrafamento provocado por acidente entre
caminhão e moto na BR-356, em julho: especialistas criticam falta de
integração entre polícias e BHTrans |
Assim
como o Anel Rodoviário, a BR-356 também é considerada pelos
especialistas uma via urbana, no trecho que começa no Trevo do
Belvedere, depois da Avenida Nossa Senhora do Carmo, e segue até o
Viaduto da Mutuca. Além das dificuldades com o trânsito que mistura
carretas e veículos leves, a rodovia também sofre com a questão
institucional. Ali, o trecho é federal até o trevo, mas a Polícia
Rodoviária Federal (PRF) e o Batalhão de Polícia Militar Rodoviária
(PMRv) se dividem na fiscalização. Já na descida da Nossa Senhora do
Carmo, que recebe grande fluxo de veículos, à exceção de caminhões
pesados, a jurisdição é municipal.
“A questão institucional é
importante. Quem é o dono, quem manda, quem vai resolver? É preciso
tratar aquele trecho como uma avenida da cidade, da forma como ela já é,
mas como há vários órgãos atuando ali, eles precisam de colaboração e
coordenação”, diz o engenheiro civil e mestre na área de transportes
Silvestre de Andrade Puty Filho.
Paulo Rogério Monteiro, mestre em
engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia,
concorda: “Ali é necessária uma gestão integrada. Qualquer lentidão
naquele trecho causa problemas no Belvedere, na Avenida Raja Gabaglia e
na MG-030”. Ele acredita que o complexo viário prometido para o trecho
do entorno do BH Shopping vai melhorar o trânsito, opinião
compartilhada por Silvestre. Segundo o Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte (Dnit), o Portal Sul já tem o projeto
pronto, à espera de verba federal para licitar a obra.
“O portal
é interessante pela fluidez e também porque vai permitir novas
possibilidades de articulação com a região metropolitana”, avalia
Silvestre. “A entrada da cidade basicamente é feita pelo Anel. A alça
Sul, com trincheiras e viadutos, vai desafogar essa outra via”.
Alça leste
O
professor Ronaldo Guimarães Gouvêa, do Departamento de Engenharia de
Transportes da UFMG, vai além. Para ele, o trânsito congestionado na
Savassi já é reflexo do fluxo que vem pela BR-356 com destino à Região
Leste da cidade. Ele aposta na alça Leste como uma saída e acredita
que, com o Rodoanel, o velho Anel terá o papel de via de ligação para o
qual foi criado, minimizando o impacto na região Centro-Sul. Uma
opção, para ele, é começar o desvio entre o Jardim Canadá e o Viaduto
da Mutuca, ligando a via até a BR-262.
“Quem desce a BR-040 até a
356 ainda não tem nenhum acesso em Nova Lima por questões
preservacionistas. Isso torna intenso o trânsito da Avenida Nossa
Senhora do Carmo, com fluxo de quem vai para bairros como Esplanada,
Santa Efigênia, Taquaril ou até para Sabará. Teria que ver uma solução
baseada nos aspectos ambientais, de trânsito e urbanista, mas não dá
para passar atrás do BH Shopping porque a região ali já está saturada”.
Segundo
o Dnit, um estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental ainda
será feito para avaliar as possibilidades da construção da Alça Leste.
Caso haja viabilidade, as etapas seguintes são o estudo do traçado e a
elaboração dos projetos básico e executivo. Só então terá início a fase
de licitações. Sobre o trânsito de cargas pesadas no trecho que
antecede a Avenida Nossa Senhora do Carmo, o Dnit informou que a
portaria normativa está pronta e deve ser publicada na semana que vem,
atendendo um pedido da BHTrans, que ofereceu até a nova sinalização.
Urbanistas propõem Anel da Serra
 |
|
Em horário de pico, trânsito também fica ruim na Rua Eurico Dutra, no Bairro Belvedere |
Um
projeto datado de 1986 também já vislumbrava o caos no trânsito no
entorno do Bairro Belvedere e sugeria às autoridades alternativas para a
circulação. Elaborado por um grupo de urbanistas, ele foi batizado de
Anel da Serra, desviando o trânsito da BR-356 por dentro do bairro, em
duas pistas à beira da ferrovia desativada. Segundo o arquiteto e
urbanista Henrique Campos, que dirigiu a Escola de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nunca houve
resposta para a ideia do projeto, que facilitaria a passagem de veículos
de passeio.
De acordo com o projeto, a via seria uma
continuação de uma avenida urbana saindo de Brumadinho até o Belvedere,
por trás do município de Nova Lima. Segundo Henrique, moradores dos
condomínios poderiam cortar caminho, deixando o trânsito de caminhões
de carga para a rodovia. “A BR ficaria livre para quem entra ou sai da
cidade. Aproveitaríamos o leito da ferrovia atrás do Belvedere, que
está desativada, e ainda poderia ser utilizada para o metrô. Usaríamos a
faixa de desapropriação, fazendo duas pistas laterais à ferrovia”,
explica o arquiteto, que também não descarta a importância do Rodoanel.
“O trânsito pesado não pode cortar a cidade”.
Numa outra etapa, o
projeto amplia os acessos ao Belvedere pela Rua da Paisagem, depois do
Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, em 1.500 metros de avenida.
Ele diz que três pistas poderiam ser abertas para ir e para voltar. Há
ainda possibilidades de fazer outro acesso pela Avenida Bandeirantes,
nos fundos do Parque Juscelino Kubitschek, no Bairro Sion. “Seriam mais
duas pistas por ali e outras duas pela Praça Alasca (no mesmo bairro). O
problema é que, na época, os moradores do Belvedere não queriam que
ninguém de Nova Lima passasse pelo bairro deles”, lamenta Henrique.
Ele
diz que o Anel da Serra também resolveria o problema de integração com
a Região Leste da cidade, estimulando ainda o lazer no Parque das
Mangabeiras. O projeto também destaca as possibilidades de
aproveitamento do sistema viário metropolitano.
Rodoanel exige adaptações no Anel Rodoviário
No
longo prazo, a construção do Rodoanel é apontada como fundamental por
especialistas e mesmo pela BHTrans para melhorar a circulação no Anel
Rodoviário. “O grande problema do Anel é a mistura do tráfego pesado dos
caminhões com o tráfego urbano, de automóveis, motocicletas e ônibus”,
analisa o engenheiro Silvestre de Andrade Puty Filho. “Esse conflito é
uma das principais causas de acidentes”, acrescenta.
O
Rodoanel, segundo ele, resolveria em boa medida esse problema. O velho
Anel, com isso, precisaria de um tratamento especificamente urbano.
“Depois de construir o Rodoanel, é preciso dar um tratamento melhor
para pedestres no velho Anel, com passeios, passarelas e pontos de
ônibus mais bem localizados. A sinalização também deve ser urbana e não
podemos deixar de integrá-lo com o sistema viário já existente no
entorno. Assim, as condições serão mais adequadas para a cidade toda”,
avalia Silvestre.
Para o professor da UFMG Ronaldo Guimarães
Gouvêa, o Rodoanel é uma obra que deveria despertar mais interesse
plurigovernamental. Ele considera essa intervenção mais importante que a
duplicação das avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado. “Não é uma
obra secundária”, defende. “Sem o Rodoanel, as rodovias se misturam no
velho Anel e não é possível conciliar caminhões e carretas a 80km/h e
100km/h com trânsito urbano. Essa rodovia saturada tem que ser
repensada como uma avenida completa”, cobra.
Responsável pelo
trânsito de BH, o presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, concorda
com a necessidade de repensar o Anel Rodoviário. “Quando ocorre um
problema ali, às vezes precisamos de um plano B. Um acidente ali
paralisa tudo”, admite. “É como uma trombada com efeito dominó”,
considera. “Essas rodovias que cortam a cidade são o maior problema do
trânsito em BH e por isso o Rodoanel é fundamental”, reconhece.
Para
o trecho Betim-Ravena do Rodoanel, o governo de Minas é responsável
pelo projeto e execução, com verba federal. A ideia é fazer parceria
público-privada para a obra, que não deve custar menos de R$ 500
milhões. O projeto inicial já foi feito e encaminhado para a Secretaria
de Transporte e Obras Públicas. Oito empresas apresentaram propostas. O
governo avalia o material. Já o trecho Sul e o contorno Leste, segundo
o Ministério dos Transportes, ficarão a cargo da União. Para a alça
Sul, o edital dos estudos de traçado e elaboração do projeto foi
publicado em junho e o processo encontra-se em fase de recurso. Não há
estudo para o Contorno Leste, mas deve começar na BR-040, altura do
Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima. Ele passaria pelas proximidades do
Parque das Mangabeiras e pelo Bairro Taquaril, até a BR-381, fechando
totalmente o círculo.
Fonte:
www.em.com.br